viernes, 15 de marzo de 2019

"A Cicatriz", de Adélia Prado



Estão equivocados os teólogos
quando descrevem Deus em seus tratados.
Esperai por mim que vou ser apontada
como aquela que fez o irreparável.
Deus vai nascer de novo para me resgatar.
Me mata, Jonathan, com sua faca,
me livra do cativeiro do tempo.
Quero entender suas unhas,
o plano não se fixa, sua cara desaparece.
Eu amo o tempo por que amo este inferno,
este amor doloroso que precisa do corpo,
da proteção de Deus para dizer - se
nesta tarde infestada de pedestres.
Ter um corpo é como fazer poemas,
pisar margen de abismos,
             eu te amo.
Seu relógio,
             incongruente como meus sapatos,
uma cruz gozosa, ó Félix Culpa!




El poema fue incluido en Poesia Reunida, Rio de Janeiro: Record, 2016.

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