(El párrafo corresponde al capítulo 12 de la novela)
Nessa época
do ano, quase em outubro, ainda havia meia dúzia de pessoas de férias na Ericeira
e alguns toldos na praia gelada, diante de ruelas de chalés semelhantes a
urinóis antigos, invadidos por vinhas-virgens e escorpiões. O vento trazia
consigo os carriles de Mafra que soavam como o olhar remoto de avós evaporado.
O outono e a cinza dos seus fumos fazia-os sentirem-se numa vila quase deserta
com raros grumetes nas calçadas estreitas, traineiras que nunca largavam para o
mar e pessoas tão idosas quanto eles no adro da igreja vazia, de Santos de
talha inclinados em ameaças tenebrosas. O frio oxidada as agulhas da máquina de
costura sem trabalho, apesar da esposa arrancar os botões de todas as camisas e
de todos os casacos pelo puro hábito de os pegar de novo. Promessas de chuva desuniam
as cornijas dos telhados. As árvores definhavam a praça, jogando ao acaso os
membros esquartejados de quatro ou cinco ramos em pânico. O café da manhã
possuía o sabor do lodo que trepava, de acordo com os suspiros da água, nos
ralos a molhados dos bidés. O retrato nupcial era uma mancha já totalmente
indistinta, desprovida de qualquer contorno salvo o sorriso imaginado da mulher
que crava de vergonha e de surpresa. O marido lembrou-se da última ocasião em
que lhe escutará a voz, em Bissau, para dizer, após cinquenta e três anos de
África, já não pertenço aqui, e de como tinham perdido por inteiro o costume de
falar, dialogando um com outro por intermédio de um alfabeto esquemático de
gestos evasivos, e decidiu convidá-la, à pesar da idade, a passar a vida a
limpo, desde o início, num ponto qualquer do mundo.
—Até o Pólo
Norte, argumentou ele, é de certeza melhor do que está coisa.